Meu interesse por custos começou ainda em 1974, quando das aulas na Poli. E o por cálculo de ponto de equilíbrio, no mestrado na FEA, em 1979.
Estamos agora em 1980. Acabo de conhecer um dos pioneiros da indústria de autopeças no Brasil, que viria a se tornar meu sogro, Bahij Gattás. No final dos anos 1940 ele havia fundado a Simetal SA, uma fundição de ferro que produzia peças técnicas e tambores de freio. Mas nessa época que eu o conheci, ele já estava na sua segunda empreitada. Havia montado alguns anos antes uma fábrica de moedores elétricos de carne, e panelas de pipoca, chamada Lico. O Sr. Bahij era um autodidata e me ensinou muito. Nessa fábrica da Lico, ele conseguiu montar uma linha dupla de montagem – duas linhas em paralelo – num espaço de uns 7 metros por não mais do que 20 m de fundo. Tudo era montado ali e quando o moedor chegava ao final dessas linhas já estava quase pronto, indo para uma sala seguinte só para ajustes finais, testes e embalagem. Eu fiquei impressionado o como ele conseguiu criar esse layout num espaço tão apertado e exíguo. Mas ele tinha outra ferramenta de produtividade – a sua fita de máquina de calcular! Todo dia 30 ele já tinha armado todo o mês seguinte, colocando os cálculos nessa fita de papel, na parte de cima tudo o que ele tinha para receber no mês que iria se iniciar. Na parte de baixo, subtraindo, tudo o que ele tinha que pagar no mês. Com isso ele já sabia o que iria sobrar para ele viver no mês, e já tinha a intuição se ele deveria aumentar os preços do moedor, ou aumentar os volumes de vendas, mantendo o preço. Essa simples fitinha de máquina de somar era tudo o que o Sr. Bahij Gattás usava para administrar a Lico. E nunca ele errou! Quando tinha que aumentar os preços, ele aumentava sem pestanejar. Quando era o volume que ele tinha que aumentar, obrigava o pessoal de vendas a atingir metas mais ousadas. E eu olhava aquilo, após me formar na Poli e me pós-graduar na FEA e dizia para mim mesmo – olha aí, é assim que as coisas funcionam na prática. Se meu caixa diz que eu posso, eu faço. Se ele me diz que eu não posso, eu reajo.
Nessa época eu estava começando uma carreira de 11 anos em bancos, onde eu trabalhei com modelagem de rentabilidade. E nos bancos os cálculos, apesar de muito mais sofisticados do que os de uma simples adição/subtração, também decidiam sempre sobre o resultado no caixa do banco. Nessa época o Brasil passava por mais uma crise, e o Banco Central instituiu uma política chamada contingenciamento de crédito. No começo de cada ano os bancos já sabiam o quanto poderiam aumentar o seu volume de crédito/ativos até o final desse ano. Isso obrigava os bancos a otimizar as entradas de caixa para cada unidade de crédito contingenciada.
Permaneci em bancos até 1990, quando fui trabalhar com outro pioneiro da indústria de autopeças no Brasil. Nos anos 1960, o Sr. Byron Christe Photios Tambaoglou havia montado a FSP SA Metalúrgica, uma fundição sob pressão, de alumínio e zamak, que produzia peças técnicas e fechaduras para a indústria automobilística.
O Sr. Byron era um engenheiro formado na Escola Politécnica de Atenas-Grécia, e foi um dos maiores responsáveis por eu conseguir descobrir o como calcular o ponto de equilíbrio. A cada mês eu lhe informava o quanto a empresa faturou e o quanto ela “deveria ter faturado” para pagar todas as contas. Mas ele sempre questionava as minhas contas. Foi daí que eu descobri que se eu voltasse nos meses anteriores, e simulasse esses meses com os faturamentos que eu tinha calculado, as contas que não foram pagas, por falta de caixa, poderiam ter sido pagas. Desse início, o processo foi evoluindo e cheguei à conclusão que o método que daria a melhor resposta seria retornar por um ano inteiro, para termos as informações completas sobre o ciclo da folha de pagamentos e o ciclo de sazonalidade das vendas.
Graças à convivência com esses dois empresários, que acabamos chegando ao sistema CVC – custeio variável de caixa, que é o sistema de custos com o qual trabalhamos em nossos clientes. Fica aqui então, a minha modesta homenagem a esses dois pioneiros da indústria de autopeças no Brasil – Bahij Gattás, e Byron Tambaoglou.