Os sistemas de custos tradicionais, que trabalham com o conceito de “custo unitário” dependem de uma composição fixa de mix de produtos e volumes. Se muda o mix ou volumes produzidos, mudam os custos unitários.
Mas tem alguma lógica isso? Se os custos foram levantados de maneira correta, porque mudam?
Essa foi uma dúvida que tivemos desde que estudamos a então chamada Contabilidade de Custos nos tempos da escola. Após o levantamento de custos terminado, havia uma Análise de Variância – variância em relação aos volumes, ou variância em relação aos custos orçados.
Mas aí o empresário se pergunta: se o meu custo unitário vai depender do que acabará ocorrendo ‘só no final do mês’, que garantia eu tenho hoje, de estar tomando a decisão correta em relação aos preços de meus produtos?
Da mesma maneira portanto que se ‘cria’ o conceito de custo unitário, cria-se também o seu sucedâneo natural: o ‘lucro individual’ dos produtos!
Uma das críticas que o pessoal que trabalha com custos rateados (os custos unitários) faz aos que trabalham – como nós – pela análise de custos variáveis, é que pelo nosso sistema, ‘um quilo de coxa de frango congelada’ tem o mesmo custo que ‘um quilo de coxa de frango resfriada’, que consome bem menos frio/energia na sua transformação. Mas isso pode ser diferente, ou não. Se a empresa tem uma demanda contratada de energia, de tal sorte que manter congelada ou resfriada a coxa de frango, o valor de pagamento da conta de luz não muda, então este fato é irrelevante. Se, ao contrário, esse fato altera a conta de luz, e ‘se’ essa alteração é relevante, pode-se considerar o ‘congelamento’ como um acréscimo ao gasto da matéria prima, e a partir daí calcular a sua precificação. O que nós queremos dizer é que pode se ter flexibilidade, sem incorrer na ficção do ‘custo unitário’.
Ou seja, nós definimos pelo nosso sistema de custos o ‘preço de corte’, que é o preço mínimo para se pagar a ‘estrutura’ da empresa. E nada impede que o empresário defina essas ‘diferenças’ – uma peça mais complicada, ou um ‘set up’ mais alto, ou o uso de maquinário ou ferramentas mais sofisticado, simplesmente impondo ao produto uma margem bruta de lucro maior que para outros produtos. E ele pode fazer isto usando qualquer faixa de preço acima do ‘preço de corte’ que ele queira, pois esse ‘preço maior’ dependerá não somente de um teórico maior ‘esforço’ de produção, mas também dependerá da sua estratégia de mercado em relação aos seus concorrentes.
Ou seja, como o custo real de um produto é definido pelo custo da estrutura montada, todos os produtos daquela unidade de produção deverão ter uma margem de contribuição que cubra os custos fixos dela. Mas a partir desse mínimo, pode-se alocar margens diferentes para produtos que possam ser considerados ‘mais difíceis’, ou ‘mais sofisticados’, ou ‘mais tecnológicos’. No entanto, perceba-se que nós falamos aqui que “pode-se” fazer isso, mas não que seja necessário. Se o seu concorrente faz uso de um sistema tradicional de custos, e onera esse produto com todo o ‘esforço’ que ele usa na sua produção, você pode ganhar uma boa participação de mercado trabalhando apenas com o ‘preço de corte’, que já é o suficiente para pagar todas as suas contas.
E porque dissemos no título: ‘a troca do certo pelo incerto?’.
– Porque os custos da empresa são certos, você os sabe com precisão total, pois são as contas que você tem que pagar todo mês. Já qualquer rateio será sempre ‘incerto’, pois dependerá do mix de produtos e volumes produzidos no mês, que é ‘constantemente variável’, se é que podemos usar esta figura de linguagem. Não ratear, e trabalhar com os custos da estrutura, nos dá a certeza que ‘os custos levantados pagam as contas da empresa’.